quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A COMPREENSÃO LIMITADA


Roldana


“(…) a escola profissional foi instituída para pôr de pé este modelo impossível do homem, que compreenderia até ali e não mais além. Era possível no tempo dos ofícios misteriosos, onde o jeito manual era tudo; já não é possível no tempo das máquinas, que são objectos sem nenhuma malícia e sem nenhum mistério. Foi assim que se desenvolveu este materialismo operário, que é, talvez, coisa imprevista, a única força moral a agir no mundo. O facto é que, um ajustamento dente a dente é uma espécie de imagem da justiça. E, sobretudo, a prática das máquinas predispõe à mudança imediata do que não corre como se queria.”

“Propos d’Économique” (Alain)



Da mecânica à electrónica e à computação vai uma distância que confunde o materialismo ingénuo de que falava o filósofo no princípio do século vinte.

Se há uma “imagem da justiça” nas novas condições, são outros os profissionais que dela beneficiam e esses mesmos são uma elite. Já são as máquinas que objectivam o pensamento do que é ajustado e que monitorizam o que funciona  e o que não.

O materialismo operário tornou-se residual, e enquanto consumidor e utilizador da tecnologia, o operário é tão “supersticioso” como qualquer outro. Na verdade, voltámos aos “ofícios misteriosos” e perante o novo objecto quase todos somos leigos.

Quando antes podíamos reduzir todas as máquinas a um princípio simples como a alavanca, o parafuso ou a roldana, hoje temos de sair da natureza empírica para as explicar. O ensino especializado revela isso mesmo e, com ele, o modelo do homem que só tem de compreender até um certo ponto.

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