sábado, 23 de janeiro de 2010

FLEXICRACIA



"Se a flexibilidade e a rigidez designam duas variedades da formação de expectativas relativamente improváveis, o problema não se situa na escolha de uma contra a outra, mas na sua combinação. Ficamos impedidos de toda a compreensão do fenómeno das organizações se as considerarmos em primeiro lugar como nefastas sob o ângulo da 'burocracia'. A variedade e a redundância são igualmente necessárias, e nas circunstâncias actuais ainda mais do que antes."

"Politique et complexité" (Niklas Luhmann)


Mesmo fora da burocracia de Estado, a "redundância" pode ser uma arma de sobrevivência ou de hegemonia. É o que acontece com conceitos como o de "cultura de empresa", que é uma maneira de dizer: "nós somos o que somos, e é mesmo assim. É a sua própria rigidez que lhes garante o sucesso face a organizações elásticas e face aos media. Elas podem impor-se como o fazem pessoas rígidas em face de pessoas tolerantes no meio da discussão cortês, ao mesmo tempo que esta capacidade de imposição se funda na não-utilização de possibilidades alternativas."(ibidem).

É por isso que o actual favor de que goza a flexibilidade à outrance, na economia e nas empresas, tem todas as características duma ideologia.

É preciso dizer que como projecto metafísico (Popper), o darwinismo não tem qualquer credencial no que às ciências sociais diz respeito. De resto, aquela ideologia poderia até significar no domínio económico uma vantagem artificial concedida às organizações "elásticas", onde se imporia, eventualmente, maior burocracia ou "redundância".

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