segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

CHAPÉUS



"Stepan Arkadyevitch pegou e leu um jornal liberal, não extremista, mas advogando o ponto de vista da maioria. E apesar do facto de a ciência, a arte e a política não terem para si um interesse especial, ele sustentava firmemente esse ponto de vista sobre todos os assuntos adoptado pela maioria e pelo seu jornal, e só mudava de opinião quando a maioria mudasse – ou, falando com mais rigor, ele não mudava de opinião, era ela que mudava imperceptivelmente dentro de si."

"Anna Karenina" (Leo Tolstoy)


O irmão de Anna adoptava as opiniões prevalecentes dentro do seu círculo, sem pensar nisso mais do que se tivesse de escolher um chapéu. As suas ideias eram, de facto, um capítulo da etiqueta social. Não era nenhum Pascal, dando o devido valor às convenções, mas guardando um pensamento próprio debaixo do chapéu.

Como não era o caso, Stepan, sendo uma personagem encantadora, fazia infeliz os seus por não ser capaz de resistir a uma tentação.

O "vira-casaquismo", ou a mudança brusca de opinião, em política, não é normal. É muito mais natural fazer-se 180º com todo o seu "círculo" mais a comunicação social. Porque há duas translações a ter em conta, coisa que não acontecia no tempo de Tolstoi. A televisão é o centro do relativismo por não poder tomar partido. Ao adoptar as opiniões da maioria recebe esse relativismo que ela própria difundiu. Mas para além deste movimento, existe, com velocidades diferentes e porventura sentidos diferentes, a rotação dos grupos e dos sub-grupos.

Nisto, estamos ainda à espera de Copérnico.

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