sábado, 14 de junho de 2008

ULTIMA VERBA


Sócrates


"Com a sua pergunta de como havia de enterrá-lo conseguiu Críton a última réplica humorística de Sócrates - pelos vistos, diz o mestre, para este homem tem sido inútil tudo o que tenho dito, pois continua a confundir-me com o cadáver que, dentro de pouco, jazerá aqui. Pouco depois, Sócrates pediu que fosse misturada e trazida a bebida."

"O Estranhamento do Mundo" (Peter Sloterdijk)


Sócrates pensa na sua lição magistral, está sob o efeito do peso histórico das últimas palavras, a ponto de parecer ignorar a realidade comezinha dos despojos.

E, num sentido, isso já não é, realmente, com ele. Nada do que possam fazer os "sobreviventes" pode alterar o facto dele, estando morto, não ter de lhes responder.

Mas, noutro sentido, o mesmo da sua futura existência simbólica, o destino do corpo não lhe devia ser indiferente.

O cadáver ultrajado confronta-se no mesmo terreno simbólico com o prestígio da última lição.

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