sábado, 7 de junho de 2008

EVA PSICOPOMPA


"Eva" (1962-Joseph Losey)


Uma Veneza em que a neblina se abre sobre a água e os palácios, as praças desertas como em Chirico, ao som de Billy Holiday ("Willow weep for me") é o cenário deste melodrama cerebral sobre um escritor de sucesso (Stanley Baker) que expia o crime de ter roubado a alma (usurpando-lhe o romance) ao irmão morto. Por isso se precipita no abismo do sexo demoníaco ( Jeanne Moreau).

A história é uma interpretação do "pecado original" que faz de Eva, não simplesmente a tentadora, mas uma aliada do "desejo de inexistência" de que fala Sloterdijk. "Para a ética terapêutica, o único caminho aberto é o da cumplicidade e da compaixão pelas tendências inexistenciais da vida humana. Nesta caminho alarga-se a compreensão às mais ocultas disposições de dependência da nossa civilização." ("O Estranhamento do Mundo")

A sumptuosa fotografia de Gianni Di Venanzo e Henri Decaë, a fluidez da montagem, o ritmo do "blues" dão a este filme um tom elegíaco inesquecível.

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