segunda-feira, 23 de junho de 2008

PAIXÃO MUNDANA


Madeleine Lemaire (o modelo de Mme Verdurin?)


"Eu tinha esquecido que os Verdurin começavam, mundanamente, uma evolução tímida, amortecida pelo caso Dreyfus, acelerada pela música "nova", evolução aliás por eles desmentida, e que continuariam a desmentir até que tivesse sucesso, como esses objectivos militares que um general só anuncia quando foram atingidos, de modo a não ter o ar de derrotado se falhar."

"Sodome et Gomorrhe" (Marcel Proust)


A paixão mundana retratada por Proust é quase incompreensível para nós, nestes tempos em que a esfera privada de tal modo se desenvolveu que quase só a profissão ou os negócios sustentam o que resta da mundanidade.

Mas mais importante do que essa "privatização", em que as relações virtuais adquirem cada vez mais espaço, é talvez, em consequência da democracia, o desaparecimento de certas classes, com o seu código exclusivo e a sua cultura.

Uma carreira mundana tinha, então, para um jovem o mesmo significado que hoje tem o dinheiro e o consumo distintivo.

O snobismo de Proust foi a chave que lhe deu acesso aos "aquários" mais selectos, para estudar alguns peixes raros.

Um homem da sua inteligência só podia salvar-se da decepção através da literatura.

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