sexta-feira, 6 de junho de 2008

DIZER SIM


Georges de La Tour (S. José Carpinteiro)


"Creio que é possível compreender os seus semelhantes e eventualmente combatê-los, de trabalhar para um mundo mais humano e viver aqui mesmo uma certa felicidade: creio nisso, mas nada o prova. E se me contento em crer, não será mais do que uma opinião, uma consciência vã, um fantasma de sentido, uma pura fantasia. Mas se me decido a viver isso, será uma aposta, na qual jogarei o sentido da minha vida. De qualquer modo seria preciso apostar, para começar, que essa mesma aposta tem um sentido, e não sair daí até ao fim do tempo."

"La foi d'un incroyant" Francis Jeanson


Não há resposta, mas esta é uma resposta. E ela cria perante nós mesmos e os outros uma responsabilidade. Responsável é aquele que responde por si mesmo, em quem ele mesmo e os outros se podem fiar. Sloterdijk diz que uma pessoa é "um ser capaz de dizer que sim ao seu relativo ser-vazio, existir". Nenhum outro recurso a não ser essa fé e essa fidelidade. Deus não apareceu ainda e o mundo humano já faz sentido, só por essa aposta duma consciência.

Mas antes dessa consciência e dessa aposta que supõem a auto-reflexão (a morbidez de que fala Rousseau), as pessoas vivem como se a sua própria vida fosse a única resposta.

E se não sentem que há uma aposta, é porque são embaladas pela colectividade natural que encontra na religião, ou no que a substitui, o seu sentido.

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