quinta-feira, 5 de junho de 2008

O OIRO DE NÁPOLES


"O Oiro de Nápoles" (1954-Vittorio de Sicca)

O oiro de Nápoles é, nas palavras de introdução, a paciência e a esperança.

Aguentar como Totò em "Il guappo", a ocupação da sua casa pelo mafioso e esperar por um momento de sorte, que acontece quando o bruto pensa que vai morrer, para lhe despejar os trastes na rua.

Ou "Teresa" (Silvana Mangano), outro episódio. Ela é uma "daquelas mulheres" a quem um desconhecido oferece a oportunidade de escapar ao seu triste destino, propondo-lhe um casamento rico. Mas na noite de núpcias, o noivo confessa que se serviu dela para expiar a morte de outra mulher que se suicidara por sua causa. Depois do primeiro movimento de revolta, já em frente da casa com a mala no chão e um tacão partido, Teresa avalia o que lhe vai custar esse orgulho. E é com as pancadas determinadas da evidência que acorda o palácio donde saíra para ocupar a posição que o masoquismo desse marido lhe oferecia.

O rosto da Mangano nessa encruzilhada é um grande momento de cinema.

O último episódio "Il professore", com Eduardo de Filippo, é um exemplo inexcedível de astúcia classista e da arte dos fracos de dar a volta à sua situação.

O "professor", na verdade um violinista que enquanto se vai aperaltando para aparecer na orquestra vende conselhos ao bairro, como um sage antigo, misturando a inteligência prática a um grande conhecimento dos homens. O caso que uma delegação lhe apresenta é o de um velho duque que, duas vezes por dia, gosta de estadear o seu automóvel, conduzido por um "chauffeur", pelas estreitas vielas da velha cidade, provocando uma enorme comoção entre os que vivem na rua e têm que recolher as suas quitandas e abandonar à pressa as cadeiras onde apanham sol.

O remédio do professor é o famosíssimo pernacchio napolitano, uma zombaria ruidosa em que se usa o nariz e a boca como um trombone com que os vizinhos deveriam saudar a passagem do duque. Percebe-se a surpresa deste e de que maneira o ridículo foi eficaz e desmoralizante.

Os outros episódios do filme de Vittorio de Sicca são todos dignos de nota, líricos como o do funeral de um menino, ou maliciosamente cómicos como "Pizze a credito" com uma Sofia Loren nas suas primícias. O menos excelente é "I giocatori", em que um jogador compulsivo (o próprio realizador) se defronta ao jogo com uma criança com sorte.

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