sexta-feira, 27 de junho de 2008

AS BUZINAS DE JERICÓ


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"Mas em nenhum sistema praticável pode algum grupo ser autorizado a impor pela ameaça ou violência o que acredita que lhe cabe. E quando não apenas alguns grupos privilegiados, mas os mais importantes sectores do trabalho se tornaram efectivamente organizados para a acção coerciva, permitir que cada um actue independentemente não só produzirá o oposto da justiça, mas resultará no caos económico."

"The Constitution of Liberty" (Friedrich Hayek)


Hayek não deixa alternativa entre serem as livres forças do mercado a fixar a estrutura dos salários ou ser o governo a fazê-lo, não para obter alguma espécie de justiça, visto que, não havendo para ela qualquer critério objectivo, essa acção só poderia ser arbitrária e imporia, do mesmo passo, a destruição do poder sindical ou que fosse atrelado à máquina governativa.

O problema é que enquanto que o mercado, segundo o autor, deveria ter toda a liberdade (para escapar à influência das decisões "cegas" sobre a economia), os indivíduos e os grupos não poderiam ter a mesma liberdade para se organizarem.

A verdade é que em termos de força as organizações são muito diferentes umas das outras e se as mais fortes, ou ocupando lugares mais estratégicos, pudessem impor o que consideram ser o seu direito, isso não se distinguiria em nada da lei da força.

Como se viu pela recente greve dos camionistas, não se trata de um mal imaginário. Quando prevalece a vontade duma minoria que pode parar o país, a democracia sofre um dos seus frequentes eclipses. E em que é que isso é diferente de um putsch corporativo? Apenas que, em vez de tanques e G3, temos a embolização económica, e os muros de Jericó só podem cair.

Os puristas do mercado não podem, na verdade, apresentar um único país que corresponda à sua utopia, e tal como é preciso moderar o poder das organizações privadas e dos grupos profissionais, o mercado e as empresas não podem impor a sua lei.

Mas esse equilíbrio não é, evidentemente, possível se se acreditar que o Estado só pode estar ao serviço de si próprio.

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