quarta-feira, 9 de abril de 2008

A SABEDORIA DO COMITÉ


Carnot no Comité de Salvação Pública


"A situação de Carnot, Lindet, Prieur, La Vicomterie, etc., nos dois comités, era horrível. O último estremecia de lá estar. Quase que se sentia mal ao ver Robespierre. Carnot, Lindet, homens tão necessários, guardados pela vitória, eram todavia forçados a assinar as provas sangrentas que Couthon e Saint-Just enviavam, e que ele próprio, Robespierre, geralmente não assinava. É frívolo e até injurioso para eles dizer que assinaram provas tão importantes sem as ler. Digamos as coisas como elas se passaram. Se tivessem recusado, se se houvessem retirado, a França ficaria em perigo. Sem o seu trabalho, a sua sábia orientação, a imensa tagarelice não teria servido de muito."

"História da Revolução Francesa" (Jules Michelet)


Estamos aqui no momento da verdade de todas as crises. Felizes aqueles que não se viram assim, entre a espada e a parede.

Robespierre, de início, não queria a pena de morte, nem enviar homens como Danton e Desmoulins para a guilhotina. Lenine não queria meter os socialistas revolucionários todos na prisão, até o atentado sobre a sua própria vida ter mudado tudo.

Michelet diz que este foi um período de ditadura.

Apesar da festa, que foi grande, por um momento, apesar da generosidade, dos grandes princípios, foi uma ditadura.

Com o exército prussiano em solo francês, a divisão era um crime, a hesitação, um erro fatal. Mas era a isso que conduzia a guerra dos partidos e o carácter dos principais dirigentes. Os jacobinos desconfiavam de tudo e de todos, e eram mais céleres a denunciar do que a agir. O Terror saiu desse espírito, como um demónio que se impôs a todos. Havia uma lógica que matava tanto como a guilhotina e um poder cada vez mais isolado que só podia fugir para a frente.

Esta ditadura destruiu os seus fundadores e continuou com Napoleão, que é uma criatura sua, com o seu rasto de morte pela Europa fora. Mas não pôde evitar que ao cabo de vinte anos os cossacos entrassem em Paris, nem que a Restauração se lhes seguisse.

Por isso, Michelet ao referir-se às "sábias orientações" do Comité de Salvação Pública está no mínimo a mostrar-se sentimental.

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