sexta-feira, 11 de abril de 2008

A POLÍTICA FELINA


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"Robespierre, o sincero filantropo de 89, passara por coisas atrozes. Primeiro o riso unânime dos dois lados da Constituinte, dos Lameth e dos Maury. Ele, o galo da sua província, laureado de Louis-le-Grand e académico de Arras, era muito sensível. Foi para ele um banho de água-forte, secou-o cruelmente, e endureceu-o. E a vitória de 91 não o distendeu. Nunca mais voltou a ter a cara (ainda muito doce) que tinha em 89. Tornou-se cada vez mais um gato."

"História da Revolução Francesa" (Jules Michelet)


Esta alquimia, justamente admirada por Roland Barthes, em que o galo se transforma em gato, desenha a fogo o processo duma educação política.

O orgulho ferido que aprende a dissimular-se. No gato, encontramos a explicação "anatómica" dos movimentos do grande tribuno. Algumas ausências inexplicáveis na altura do perigo extremo, as alianças contranatura com os "enragés", ao mesmo tempo que professava as opiniões mais conservadoras, senão monárquicas, com uma técnica de camuflagem que faria a inveja dos seus herdeiros.

E, sobretudo, o que é mais próprio do felino, a imprevisibilidade do seu salto, a falta de confiança que inspira o seu olhar amarelo.

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