segunda-feira, 21 de maio de 2012

QUE CAPITAL?



Marx, embora não tenha criado o termo capitalista, inventou o sistema e a dialéctica da sua "superação".  Sabe-se como isso influenciou e continua a influenciar a interpretação da economia e da política, mesmo naqueles que não se revêem no marxismo. É como a invocação, por muitos,  do nome de Deus (de facto, em vão) na linguagem corrente.

Até se descobrir uma outra dialéctica que torne o mundo mais suportável, ou menos injusto, o recurso às profecias do barbudo de Trier será sempre preferido ao sentimento duma impotência para toda a eternidade. Esse novo reino anunciado, é verdade,  desperta em nós um eco familiar. Isto, pelo menos, quanto à esquerda.

Do outro lado do "hemiciclo", é-se crente de outra maneira, que é a dos que varrem a testada da sua porta  e entregam à Providência, ou à "Mão invisível" ( mas também ao Partido ) a outra parte da justiça.

É fácil de reconhecer nestas diferenças os amigos da liberdade ( que não se pode confundir com a impunidade dos que limitam a seu bel-prazer o espaço dos outros) e por que é que a liberdade tem de ser traída com as primeiras posições conquistadas.

Um documentário como "Catastroika" que neste momento se propaga na Internet, revela-nos, mais uma vez, que a economia já há muito não é "a última instância". Nada se parece agora compreender pela economia, porque o "crime social" infectou todas as instâncias do poder. A democracia parece, assim, uma encenação para manter a imagem da decência, enquanto, nos fundos, como no tempo da Lei Seca, se joga e se bebe à discrição, com a cumplicidade da polícia.

A história da luta de classes pouco nos ajuda nesta instância, porque os novos saqueadores dos recursos de todos não desempenham qualquer papel no processo produtivo. Não têm também futuro porque devoram toda a riqueza da terra sem lhe darem tempo de se regenerar.

Assim como foi a subversão do Estado moderno e o poder da ideologia veiculada pela tecnologia da época que permitiu a "eficácia" de Hitler, podemos pressentir nesta subversão da democracia, a começar nos países em que até há pouco existia ainda uma tradição exemplar, o suicídio duma cultura que causará mais estrondo do que a implosão soviética.

Os dois mundos estão, aliás, ligados. Esquecemo-nos facilmente que a antiga URSS apoiou (mas só "objectivamente"), e pela sua simples existência, a luta pela justiça nos países do Ocidente, evidentemente, com o sacrifício dos pesados orçamentos militares. Mas o fim da URSS, sobre o que, no documentário, há alguns pormenores sinistros, parece só ter libertado os predadores, sem qualquer benefício para os povos.
 

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