terça-feira, 1 de maio de 2012

AS VIRTUDES DOS ROMANOS



"Robespierre, Saint-Just e o seu partido sucumbiram porque confundiram a sociedade de democracia realista da antiguidade, baseada na escravatura real, com o Estado representativo moderno de democracia espiritualista que se baseia na escravatura emancipada, na sociedade burguesa. Ser obrigado a reconhecer e a sancionar, nos direitos do homem, a sociedade burguesa moderna, a sociedade da indústria, da concorrência universal, dos interesses privados que perseguem livremente os seus fins, este regime de anarquia, do individualismo natural e espiritual tornado estranho a si mesmo; querer ao mesmo tempo anular, depois disto, para este ou aquele indivíduo particular as manifestações vitais desta sociedade pretendendo moldar à antiga a cabeça política desta sociedade: que erro colossal!"


"La Sainte Famille" (Karl Marx e Friedrich Engels)



 
Esta ilusão dos revolucionários de 1789, em França, que pretendiam transpor para a actualidade as "virtudes romanas", foi, na verdade, uma grande força moral contra a sociedade dos privilégios dominada pela aristocracia. Nem se consegue imaginar por que se poderia substituir esse modelo, quando o messianismo operário estava ainda à espera do desenvolvimento industrial.

Marx lembra as palavras de Saint-Just: " O mundo está vazio desde os Romanos; e a sua memória enche-o e profetiza ainda a liberdade." Este estranho esquecimento da escravatura entre os Romanos por parte do "ideólogo" da Revolução Francesa, quando se invoca a memória do império sob o signo da liberdade, parece trair o pensamento burguês sobre aquilo que Marx chama de "escravatura emancipada".

A "idealização" da história romana vai de par com a "espiritualização" da democracia. Tudo parece, assim, dar razão a uma leitura da história baseada nos interesses reais, em que as ideias se arranjam como podem.

Ora, os interesses são calculáveis e previsíveis. A nossa sociedade e a história do mundo poderiam ser bem mais racionais se isso fosse verdade.

Mas as "virtudes romanas" que Saint-Just quis praticar até ao fanatismo e que, até certo ponto, serviram a causa não devem nada à razão.

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