“(…)
porque o domínio da acção é o do contingente, que não pode ser regido por
verdades científicas, o papel dos raciocínios dialécticos e dos discursos
retóricos é inevitável para introduzir alguma racionalidade no exercício da
vontade individual e colectiva.”
(Ch.Perelman, “L’Empire
Rhétorique”, citado por Michel Meyer)
Que racionalidade é
esta que não se refere aos factos e às provas científicas, mas seria “inevitável”
no exercício da vontade? Creio que poderíamos dizer que estamos a falar da
lógica, que é racional, mas independente da verdade.
A lógica (de logos) é
relativa à palavra e ao pensamento. Pelo menos enquanto devem ser formuladas,
as próprias demonstrações científicas
relevam da lógica. Não se poderia compreender uma verdade científica que
fosse ilógica no seu contexto discursivo.
No domínio da acção,
não podemos ser “científicos”, isto é, não podemos estar certos, por exemplo,
de que o objecto da nossa análise e da nossa prática é real, ou que o resultado
da nossa acção corresponderá às expectativas. Mas podemos ser “coerentes” e
trabalhar para uma finalidade ideal ou simplesmente prática.
A retórica seria,
assim, a técnica, a arte de introduzir a necessidade possível nos nossos
raciocínios e no nosso discurso. De transformar a contingência e a falta de
certeza numa cadeia de imperativos lógicos.
Ou seja, a retórica
participa ainda do mito que ordena o mundo a partir dos desejos individuais ou colectivos
e já tem qualquer coisa da ciência através do seu rigorismo lógico.
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