domingo, 17 de abril de 2011

A CERA DE ÍCARO


Pieter Bruegel (Landscape with the Fall of Icarus)


“Na introdução à sua obra “De jure belli et pacis”, Hugo Grotius exprimiu a mesma convicção. De acordo com ele, não é de modo nenhum impossível descobrir uma ‘matemática da política’. A vida social do homem não é uma mera massa de factos incoerentes, e ao acaso. Está baseada em juízos que têm a mesma validade objectiva e são passíveis da mesma firme demonstração de qualquer proposição matemática. Porque não estão dependentes de observações empíricas acidentais; têm o carácter de verdades eternas e universais.”

“The myth of the State”  (Ernst Cassirer)



Esta fé na razão é a mesma de Descartes, contemporâneo de Grotius. E nós temos de concordar que os factos sociais não são, decerto, uma massa incoerente e devem seguir a sua lei própria. Só que a infinidade de interacções na vida social não nos permite encontrar mais do que uma estatística e nunca por nunca poderemos prever o futuro. De resto, a “validade objectiva” dos juízos que contribuem para essa massa de factos sociais não pode ser demonstrada.

Mas essa Razão triunfante gerou a Revolução Francesa e a ideia metafísica de que o homem pode reproduzir a “máquina social” segundo um plano. De facto, ideias como essa  são a cera com que Ícaro pretendeu alcançar o sol. São ilusões tão necessárias como as nossas razões.

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