sexta-feira, 1 de abril de 2011

NA ÓRBITA DOS MITOS


A alegoria da Caverna (http://3.bp.blogspot.com)



“Na imaginação e no pensamento  míticos não encontramos confissões individuais. O Mito é uma objectivação da experiência social do homem, não da sua experiência individual. É verdade que num tempo posterior aparecem mitos criados por indivíduos, como, por exemplo, os famosos mitos platónicos. Mas aqui falta um dos aspectos mais essenciais dos mitos genuínos. Platão criou-os num espírito inteiramente livre; não estava sob o seu poder, dirigiu-os de acordo com os seus próprios fins: os fins do pensamento dialéctico e ético. O mito genuíno não possui esta liberdade filosófica; porque as imagens nas quais vive não são conhecidas como imagens. Não são olhadas como símbolos, mas como realidades.”

“The myth of the State” (Ernst Cassirer)



É por isso que a lógica dos mitos genuínos, na perspectiva freudiana, tem de ser decifrada. Haveria nela a mesma relação entre a sintaxe ou as peripécias da narração e os fenómenos sociais que aquela que existe entre um sintoma e a histeria, por exemplo. Essa correspondência pode parecer-nos arbitrária e, na verdade, não pode ser provada. Mas o que importa é que o mito, ou a explicação do mito funcionem.

Porque, tal como na política, em psicologia tudo o que parece é. Pergunto-me o que será preciso para algumas das nossas crenças de homens modernos, aparentemente mais racionalmente fundamentadas, passarem a ser vistas como mitos.

A nossa “inter-subjectividade” depende da maior ou menor opacidade dos mitos, mas a lei da espécie é a duma permanente desmitificação, seguida dum novo mito.

0 comentários: