domingo, 20 de setembro de 2009

A POLÍTICA DOS ESTÚDIOS


Jon Stewart

O público não se enganou ao fazer das entrevistas do “Gato Fedorento” aos candidatos um dos programas mais vistos de sempre. Suponho que esse interesse se tenha estendido mesmo àqueles que de há muito mantinham os aparelhos desligados.

O que há de novo aqui é a completa rendição da política à televisão e ao que ela representa. A extraordinária docilidade que todos os candidatos demonstraram, mesmo se nalguns foi visível algum esforço para se adaptarem a uma persona que só existe no campo mediático, é o termo duma evolução imparável. Porque o contacto directo com os eleitores é um mito que só tem expressão se for ele próprio traduzido na linguagem da televisão.

Não tem qualquer relevância para esta evolução a qualidade do humor ou a inteligência que possam caracterizar o programa. O importante é que os políticos possam ser observados fora do contexto habitual, sem as suas defesas retóricas e a sua manha profissional. Que eles consintam em expor-se assim a um público voyeur, formado pelos reality shows, é, ao mesmo tempo, um sintoma do império da “opinião pública”, formatada pela mediatização global, e um efeito da competição eleitoral. Obama condescende com o programa dum entertainer, quem ousaria ser tão pretensioso para se eximir a essa prova de se despir (simbolicamente) diante das câmaras? Tal como a inspecção militar que não é apenas um acto sanitário, este é também um exercício de humilhação que seria de mais, contudo, qualificar de democrático.

Com isto, a política deixou de ser grande ou pequena para assumir o que já vem sendo desde que a televisão assentou arraiais: uma produção dos estúdios (que já não se confinam aos de qualquer televisão em particular, mas estão em toda a parte em que a política se dá a ver).

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