quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A LUZ BRILHANTE


Platão (429–347 AC)


"Porque a função original das ideias não era a de governar ou de outra maneira determinar o caos dos negócios humanos, mas, numa 'luz brilhante', iluminar as suas trevas. Enquanto tais, as ideias não têm nada a ver com a política, a experiência política e o problema da acção, mas dizem respeito exclusivamente à filosofia, à experiência da contemplação e à busca do 'ser verdadeiro das coisas'".

"La crise de la culture" (Hannah Arendt)


A ideia suprema em Platão é a do Belo, a única que corresponde ao que se diz acima. Para Hannah Arendt, a ideia do Bem, introduzida exclusivamente no "contexto político de 'A República'", terá sido a solução encontrada pelo filósofo para a "não-pertinência" política da teoria original das ideias: "(…) a utilidade só pode ser salva pela ideia do bem, pois que 'bem' quer sempre dizer, no vocabulário grego, 'bom para' ou 'apto a'.

Há aqui o passo decisivo duma mudança de foco e de natureza dessa "luz brilhante" do exterior, do universo visível, para o interior da mente humana e dentro dela, graças ao conceito de utilidade e de adaptação, para a supremacia da Razão.

O Belo, como manifestação da harmonia cósmica e do acordo da alma com o Grande Ser, não é, evidentemente, utilizável em política. Vejam-se as prevenções de Oulianov contra a música que, precisamente, o tornavam inapto para a acção.

Mas a Razão, sobretudo depois da requalificação kantiana, é um pobre e falível substituto daquela "luz brilhante".

0 comentários: