sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A FRESCURA DA ROSA

Um discurso de Rosa Luxemburg


"Os bolcheviques certamente cometeram mais de uma falta na sua política e sem dúvida ainda cometem - que nos citem uma revolução em que nenhuma falta foi cometida! A ideia de uma política revolucionária sem falhas, e sobretudo nesta situação sem precedente, é tão absurda que é digna só de um mestre-escola alemão."


"Écrits politiques" (Rosa Luxemburg)


Rosa Luxemburg escreveu estas linhas nos primeiros anos da Revolução, quando se podia ainda falar em faltas e as políticas eram mais ditadas pelos acontecimentos e pela situação de emergência do que pelos nobres ideais dos bolcheviques.

A verdade é que nada se começa absolutamente (a não ser a vida e os novos seres), mas se continua o que já aconteceu e o que já faz parte do mundo. A explosão social que permitiu a um grupo de homens, com audácia e organização, ocupar a estrutura do estado impôs uma rota e não outra, e não a que se queria. É como um movimento de cólera com que temos de nos arranjar, mas que, entretanto, já feriu susceptibilidades e, porventura, nos ganhou inimigos para a vida. Se os princípios da Revolução tivessem sido pacíficos, não teria vencido o stalinismo, que já não foi uma "falta", nem uma sucessão de faltas, mas uma política deliberada e "conservadora", no sentido em que o gelo conserva. Staline foi o homem necessário a esta glaciação.

Na altura, os bolcheviques teriam rido da ideia de uma revolução pacífica. Terá sido o 25 de Abril uma revolução? Mas o caso é que, nas últimas décadas, conhecemos uma verdadeira revolução que não faz mártires nem réprobos e que é a mais pacífica que se pode imaginar. São as transformações sociais e culturais operadas pela tecnologia. Depois de cada vaga dessa revolução, nada fica como dantes.

No campo da economia, podem-se apontar duas revoluções pacíficas: a causada pela inflação, que redistribui a riqueza, geralmente dum modo mais injusto, sem que nenhuma política do governo pareça estar por detrás dela (o que é, evidentemente, falso), e a austeridade do género daquela que nos está a ser imposta pelos banqueiros europeus.

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