quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A ECONOMIA NO ÍNDEX

Nicolau Copérnico em Roma


Numa altura em que a Inquisição teria mandado para a fogueira quem beliscasse algum dos dogmas da Igreja, Copérnico apresentou a sua hipótese cosmológica que iria obrigar os guardiões da ortodoxia a fazer um giro de 180 graus, porque o texto bíblico entrou em aberta contradição com a ciência. E já dizia Agostinho que "sempre que o significado literal da escritura chocasse com informação científica de confiança, o intérprete devia respeitar a integridade da ciência, sob pena de trazer o descrédito à escritura" (Karen Armstrong, "The case for God").

A hipótese do astrónomo não era, com efeito, apenas uma interpretação diferente, herética, da Natureza. Era uma ordem de pensamento diferente, com verdades estabelecidas não teologicamente.

"Copérnico tinha oferecido a sua hipótese 'sub imaginationem', no modo tradicional, e quando leu o seu tratado no Vaticano em 1534, o papa deu-lhe cautelosa aprovação." (ibidem)

A "indigestão" durou quase um século, até que o tratado foi, finalmente, colocado no Índex. Este desfasamento deixa-nos a sonhar. Mas era assim que as coisas "amadureciam", até que as opiniões se fortaleceram e a especulação dum monge polaco se pôs a fazer mais sentido, para as ideias do tempo, do que a fábula do "Génesis".

O anacronismo de algumas seitas americanas que insistem ainda, contra Agostinho, na interpretação à letra dos textos sagrados, só tem comparação com a contumácia do partido republicano e do movimento conservador em continuar a defender a economia desregulada, como se nada se tivesse passado.


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