sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

BACON

"Auto-retrato" (Francis Bacon)


"Aquilo que eu ponho em questão, é a estética: este valor acrescentado, esta mais-valia cultural atrás da qual o valor próprio desaparece. Não se sabe mais onde está o objecto. Só existem discursos em volta ou olhares acumulados que acabam por criar uma aura artificial."

"De la singularité, il n'y a rien à dire" (Jean Baudrillard)


O exemplo escolhido pelo filósofo é Bacon. E a tese é a de que se é um facto que abundam os comentários sobre esta pintura, se há alguma coisa a dizer a propósito, não estamos perante um objecto original, na sua arte, mas em pleno discurso.

É claro que essa "aura artificial" (mas não o são todas?) não impede que o objecto original exista, só que o faz migrar para um outro sistema de valor. Por que é que os "Girassóis" de Van Gogh hão-de valer mais do que um desenho de Ingres?

Mas se não fosse o mercado da arte, ou se toda a arte estivesse nos museus, não haveria, realmente, tanta necessidade de "fundamentar" e de criar um valor sistemático. A estética, isto é, a cultura, não pode lidar com singularidades: "O ponto cego da singularidade só pode ser aproximado singularmente. Isso é contrário ao sistema da cultura que é um sistema de trânsito, de transição, de transparência." (idem)

 Não se pode repetir a experiência do "Salão dos Rejeitados" com a obra de Francis Bacon, quanto mais não seja porque as ideias ( ou a falta de ideias) do 'politicamente correcto' fizeram o seu caminho.

Quem poderá descobrir a singularidade desta obra dentro da nossa cultura?

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