quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

CENTAUROS

Parténon


"(...) não se pode tirar dum tal estado uma convicção; pelo menos sem ter de imediatamente abandoná-lo, como um amante tem de sair do seu amor para o poder descrever."

"O Homem Sem Qualidades" (Robert Musil)



E mais à frente, vem isto: "Sem dúvida é justo e natural que se queira saber antes de deixar a palavra ao sentimento."

Era preciso então que nos "apeássemos do cavalo", para o vermos todo, mas, infelizmente, sem cavaleiro.

A imagem do centauro é mais expressiva do que a primeira leitura da mitologia no-lo dá a ver. Não terá sido por acaso que Platão, quando tenta descrever a alma, emprega a figura do cocheiro e dos dois cavalos no "Fedro". Estes representam o desejo do Céu e o desejo da Terra, sendo aquele que os conduz a própria Razão. A natureza compósita e em conflito consigo própria da alma (cada animal puxa para o seu lado) é o que diferencia os homens dos deuses. E esta diferença é a própria vida, visto que o Olimpo não é a vida, mas uma grandiosa projecção nas estrelas.

Mas é verdade que todos podemos, como o amante de que fala Musil, "sair" do amor, seja para o descrever, perdendo-o num sentido, e noutro ganhando-o para uma outra dimensão, seja para "fazer o luto".  E estas opções afiguram-se-me agora como tendo algo em comum, porque ambas perdem o sentimento.

Por outro lado, como todos "entramos e saímos" várias vezes na vida e mesmo em cada dia que passa, é preciso crer que o amor é o melhor exemplo da "ressurreição".

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