sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A DAMA DE FERRO



Começo por dizer que ainda não vi o filme, mas é neste estado que a reflexão me parece mais "livre".

Margareth Thatcher, há muitos anos retirada e sofrendo de Alzheimer, é uma sombra da "Dama de Ferro", nome por que foi conhecida quando esteve à frente do governo conservador da Grã-Bretanha. Foi a sua firmeza de carácter em defesa das ideias polémicas em que acreditava  que lhe valeram aquele título.

Mas a história não deverá ser tão benevolente como os seus inúmeros admiradores ( os do seu tempo e os do filme que inspirou, protagonizado por Meryl Streep), pois que as ideias que defendeu são as mesmas que atolaram o seu país e a Europa pelos caminhos da desregulação e da anarquia capitalista.

Não é nada estranho que muitos dos seus opositores políticos passem a ver a sua figura com outros olhos, depois da sua espécie de mitificação através do cinema. A firmeza e a convicção nunca nos impediram de julgar as personalidades históricas pelo que elas representaram na vida dos povos. Não é a falta dessas qualidades que imputamos aos grandes e aos pequenos cabos de guerra cuja acção levou ao massacre de tantos milhões de vidas. 

Por um lado, a mulher de carne e osso é uma pálida memória e as consequências da sua política, e da de outros como ela, fazem parte duma complexidade inextricável que nos deixa a todos confusos e entregues às intuições psicológicas e às tendências políticas.

Por outro, com a passagem ao cinema, entramos, como agora se diz, noutra narrativa. Podemos, sem pruridos de consciência, admirar a força, o espírito indomável da heroína de mais uma história.

A ironia é que o exemplo dessa personagem pode, hoje, inspirar qualquer acção política numa direcção oposta à que a Thatcher real eventualmente tomaria...

1 comentários:

Anónimo disse...

Sempre discordei do "sou eu e as minhas circunstâncias" por o entender argumento de preguiçosos.
Que faço da circunstância é o que nos distingue.
Firmeza e convicção também a tinham Etty Hillesum, Teresinha de Lisieux e tantos anónimos que que nos salvam a vida, no quotidiano.

Maria Helena