domingo, 28 de março de 2010

UM BOOKMAN


Basílica de S. Paulo em Roma


"Não é só que Paulo de Tarso foi, muito provavelmente, o adido de imprensa e o virtuoso de relações públicas mais capaz de que temos registo; ele foi também, muito simplesmente, um dos muito grandes escritores da tradição ocidental. As suas epístolas contam-se no número das obras-primas duráveis da retórica, da alegoria estratégica, do paradoxo e 'de la peine cuisante' de toda a literatura. O simples facto que S. Paulo cita Eurípides atesta um bookman, um homem do livro quase nos antípodas do Nazareno que ele metamorfoseia em Cristo."

"Les Logocrates" (George Steiner)


A parte da literatura no Cristianismo e em todas as "religiões do Livro" dificilmente pode ser exagerada, porque nós nem sabemos até que ponto é essencial.

A questão da forma e do médium pode explicar o caminho percorrido, como o quis mostrar, por exemplo, Régis Debray ("Dieu: un itinéraire"), mas não pode substituir-se à pergunta da religião.

É provável que as doutrinas sejam como as espécies naturais e que só as mais complexas e adaptáveis possam vingar. A poesia e o mito são as formas que mais se adequam à luta pelo sentido. Como diz Santo Agostinho, a literalidade é para as crianças. O crente pode sempre reconhecer-se num poema.

S. Paulo, com a sua prosa magnífica, ajudou à estrutura óssea do movimento e à sua extraordinária longevidade.

Mas sempre que for preciso um renovo, devemos passar adiante dos estrategas, dos retóricos e dos "adidos de imprensa". Com a indicação do Mantuano em mente: "Non ragioniam di lor, ma guarda e passa".

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