sexta-feira, 12 de março de 2010

DO USO DA MÁSCARA


masque africain dogon


"Todo o espírito profundo tem necessidade duma máscara; mais ainda, à volta de todo o espírito profundo, forma-se continuamente uma máscara por causa da interpretação constantemente falsa, quer dizer banal, de cada uma das suas palavras, de cada uma das suas iniciativas, do menor sinal sob o qual a sua vida se manifesta."

"Par-delà le bien et le mal" (Friedrich Nietzsche)


Isto tem a ver com o segredo, os espaços de sombra e de silêncio de que todo o homem necessita, se não for de todo exterior e, portanto, uma coisa social, mas sem "alma".

Não é verdade que o homem feito possa prescindir do "diálogo consigo mesmo" e estar sempre em colóquio ou aberto aos ruídos. Essa necessidade faz-se sentir, duma forma mais premente ainda, nas crianças, que têm de ser protegidas do mundo dos adultos e do da sua própria "tribo", de modo a que possam entrar, mais tarde, naquele mundo com um mínimo de autonomia.

É o que há de verdade no conceito de privacidade (hoje, ameaçada de todas as maneiras, como se sabe). Embora, normalmente, se reduza a privacidade a uma espécie de "fio de terra".

O espaço público é um espaço de representação, em que é forçoso o uso da máscara, mesmo quando não se é profundo.

1 comentários:

Isolda disse...

Vivemos realmente num baile de máscaras. O que mais me intriga é a predeterminação delas: parece que já nascemos com o molde da máscara social pronto. E levamos a vida nos iludindo, pondo nelas enfeites que pensamos escolher.