domingo, 22 de novembro de 2009

OS LIVROS


A Bíblia de Gutenberg


"Mais do que um livro, é uma biblioteca: pode ser lida como cancioneiro, livro de viagens, memória de corte, antologia de preces, cântico de amor, panfleto político, oráculo profético, correspondência epistolar, livro de imagens, texto messiânico, e colada a esta humana palavra… a revelação de Deus."

"A Leitura Infinita" (José Tolentino de Mendonça)


Antes de ter um nome, foi tradição oral. "A Bíblia foi leitura antes de ser livro." E quando passou a ter, ta biblia ("os livros"), diz o Talmud "que os anjos choraram nesse dia."

Toda a colecção põe o problema do seu fecho. Quantos livros poderiam ainda ser acrescentados e de quantos poderia prescindir, conservando o essencial? Porque o essencial não é a cronologia histórica, ficcionada embora, e os hiatos, as anacronias são permitidos.

A decisão de encerrar a colecção foi, por isso, arbitrária. A Bíblia continuaria a ser a Bíblia, sem "Números", ou sem o "Livro de Josias". Esse é o seu lado histórico, acidental, que é bem a imagem da imperfeição dos que escreveram os textos.

Mas esse conjunto de livros é, de facto, tão central na nossa cultura, (como foi Homero para os Gregos) que não se poderia dar a resposta de Laplace a Napoleão. A "hipótese" de Deus é tão evidentemente necessária que se poderia dizer que há um Deus "criado" pela Bíblia.

Citando Oscar Wilde, "a estes textos bíblicos (os Evangelhos) se deve tudo, a catedral de Chartres, o ciclo das lendas arturianas, a vida de S. Francisco de Assis, a arte de Giotto, a 'Divina Comédia' de Dante, o 'Romeu e Julieta' e o 'Conto de Inverno', 'Os Miseráveis' de Victor Hugo, 'As Flores do Mal' de Baudelaire, os intensíssimos mármores transparentes de Miguel Ângelo, a nota de piedade dos romances russos."

Só podemos dizer que isso tudo se deve a esses textos porque puderam dar força e inspiração a alguns (poucos) homens, os seus verdadeiros leitores, não só artistas, mas santos e condutores de homens.

Nesse sentido, a Bíblia teve os efeitos de uma doutrina sublime.

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