quarta-feira, 11 de novembro de 2009

DIALÉCTICA DA POBREZA E DA RIQUEZA




"Como qualquer obstáculo que nos impede de possuir algo [...] a pobreza, mais generosa que a opulência, dá às mulheres muito mais do que a toilette que não têm dinheiro para comprar: o desejo dessa toilette, que cria um conhecimento verdadeiro, pormenorizado, profundo, dessa roupa."

(Proust, citado por Alain de Botton)

Estou a ouvir o "amigo dos pobres" repontar que a estes faltam coisas mais essenciais do que o vestido que a duquesa pode dependurar no seu cabide, logo que lhe apeteça, o que é justo num certo sentido, mas aqui fundamentalmente errado, porque a pobreza de Albertine é relativa à abastança de Oriane de Laumes. E é muito verdade que o desejo desperta em nós um interesse apaixonado que nos leva a um quase maníaco inventário das qualidades do seu objecto, o que é muito mais instrutivo do que qualquer coisa que já dissolvemos num hábito.

Esta paradoxal superioridade da "pobreza" faz lembrar a do escravo, em relação ao seu senhor, na dialéctica hegeliana.

É por isso que um espírito apaixonado sempre encontra aspectos novos de que se alimenta o seu desejo, enquanto que o indiferente já se aborrece só de pensar naquilo que julga conhecer. Como Matilde de La Mole, no "Vermelho e o Negro", que "s'ennuyait en espoir" (a expressāo tão admirada por Alain).

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