sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A GRANDEZA DAS MANIAS


Marcel Proust (1871/1922)


"'Vou frequentemente – e mal – à casa de banho', diz provavelmente ao mesmo médico. A prisão de ventre é quase permanente, aliviada apenas por um laxante forte de duas em duas semanas, que costuma provocar-lhe dores de barriga. Como já foi referido, o acto de urinar não é mais fácil, sendo acompanhado por um ardor intenso, e nem sempre é mesmo possível. Os resultados das análises revelam um excesso de ureia e de ácido úrico: 'Pedir clemência ao nosso corpo é como discursar perante um polvo para quem as nossas palavras não poderão ter mais significado que o som das marés.'"

"Como Proust Pode Mudar a Sua Vida" (Alain de Botton)


Proust teria detestado que se interessassem pelas suas maleitas por causa do seu génio, porque, como ele diz, na polémica contra Sainte-Beuve, a biografia não pode explicar a obra, e esta curiosidade pelas doenças e pelos maneirismos de um escritor peca, talvez, por idolatria literária.

Não importa. A verdade é que o delicioso livro de Botton nos permite validar a tese contrária e tirar um sumo prazer das relações "espúrias" da vida de Marcel com o seu romance.

Ninguém demonstrará, por certo, o quer que seja (se nem as influências literárias escapam ao cadinho de onde sai um novo molde), nem é razoável que se pense numa relação de causa e efeito, mas a intuição poderá, porventura, levar-nos longe nesse domínio. O que tem a ver , por exemplo, o hábito de deixar gorjetas sumptuárias (Botton fala num caso de 200%) com a maravilhosa descrição que começa pelas maneiras de adormecer ("Longtemps, je me suis couché de bonne heure")?

0 comentários: