sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O REAL E A REPRESENTAÇÃO


Etty Hillesum (1914/1943)


"Porque o grande obstáculo é sempre a representação e não a realidade. A realidade, lidamos com ela com todo o sofrimento, todas as dificuldades que a ela se prendem - assumimo-la, carregamos com ela aos ombros e é aguentando que cresce a nossa capacidade de resistência. Mas a representação do sofrimento - que não é sofrimento, porque este é fecundo e pode tornar-nos a vida preciosa - é preciso quebrá-la. E quebrando essas representações que aprisionam a vida detrás das suas grades, libertamos em nós mesmos a vida real com todas as suas forças, e tornamo-nos capazes de suportar o sofrimento real, na sua própria vida e na da humanidade."

Journal (Etty Hillesum)


Neste caso, o inimigo não é só a imaginação que nos impõe um sofrimento desnecessário e estéril, de todos os pontos de vista. Porque temos de incluir algo daquilo a que chamamos a nossa visão do mundo, na medida em que ela é afectada pela perspectiva egocêntrica. Com efeito, se nos sentimos tantas vezes inclinados a confundir a "representação" com a vida real, é porque precisamos de exagerar a nossa própria importância (Alain diria porque todos fomos crianças). A tarefa de conquistar a vida real (se não preferirmos o pessimismo) é de todos os momentos e, quando já alguém disse que o principal da educação é desentoxicar- nos da "massagem" dos media, a separação de águas entre a representação e a realidade parece ainda mais primordial.

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