sábado, 6 de dezembro de 2008

A FORÇA DA PRÓTESE


Alfred P. Sloan"Mas a apresentação de Garrett estava tão bem preparada que toda a gente a apoiou e desconfiava-se que Sloan era de alma e coração a favor dela. Porém, quando todos pensavam que a proposta estava aprovada, o velho desligou o aparelho auditivo e inquiriu:

-Deduzo, meus senhores, que todos apoiam a proposta?

- Sim, senhor Sloan - respondeu o coro.

-Então penso que devemos adiar esta campanha durante um mês para termos tempo de pensar nela.

Um mês depois, a proposta era abandonada ou drasticamente revista."


"Memórias de um economista" (Peter Drucker)


Drucker dizia que a prótese auditiva de Alfred Sloan, o presidente da General Motors, era o instrumento perfeito de gestão. Tinha de ser desligada para o utilizador poder ouvir-se a si próprio enquanto falava. Mas quando a desligava, "produzia um estrondo bem audível e toda a gente se calava."

Este murro de autoridade involuntária que era o estampido da prótese somava-se, como se vê, a uma grande inteligência da psicologia das decisões.

Era tão consciente da volubilidade humana e da ilimitada possibilidade de errar que não prescindia da contradição e só usava a sua arte de domínio das reuniões "depois de todos terem tido a oportunidade de falar."

A unanimidade ou a falsa divergência pertencem ao plano da cerimónia comunitária. Servem para estreitar os laços do grupo e criar nele o sentimento da própria força que pode levá-lo para longe da realidade.

Na economia, numa empresa, esses desvios são fatais. Fora dela, podem pôr em causa o funcionamento do sistema político, pois pertencem, com mais rigor, a outro sistema: o religioso (onde se enquadram também os fenómenos de apoteose mediática).

São perigosos na medida em que os grupos dispõem de poder que tornam cego em relação ao ambiente em que se movem.

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