quinta-feira, 22 de março de 2007

OBJECTIVIDADE IMPERTINENTE



"O retrato era anterior ao momento em que Odette, disciplinando as suas feições, tinha feito do seu rosto e do seu corpo essa criação que, através dos anos, os seus cabeleireiros, os seus costureiros, ela própria - no modo de se comportar, de falar, de sorrir, de poisar as mãos, os olhos, de pensar - deviam respeitar nas grandes linhas."

"À l'ombre des jeunes filles en fleurs" (Marcel Proust)


Às vezes, da janela de um autocarro, surpreendemos na rua um conhecido, que passa sem nos ver, entregue aos seus pensamentos.

Então compreendemos quanto do aspecto moral de uma pessoa depende da presença dos outros e do esforço inconsciente dela própria para não os desiludir, para não deixar cair a máscara social, da qual já não consegue separar-se.

É o privilégio dos outros ver a nossa personagem fora do teatro, mas à custa de uma objectividade impertinente.

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