segunda-feira, 26 de junho de 2006

O EDUQUÊS SEM MÁCULA


Hannah Arendt (1906/1975)

"No que diz respeito à política, há aqui, obviamente, uma grave incompreensão: em vez de um indivíduo se juntar aos seus semelhantes assumindo o esforço de os persuadir e correndo o risco de falhar, opta por uma intervenção ditatorial, baseada na superioridade do adulto, procurando produzir o novo como um fait accompli, quer dizer, como se o novo já existisse. É por esta razão que, na Europa, a crença de que é necessário começar pelas crianças se se pretendem produzir novas condições, tem sido monopólio principalmente dos movimentos revolucionários com tendências tirânicas, movimentos esses que, quando chegam ao poder, retiram os filhos aos pais e, muito simplesmente, tratam de os doutrinar. Ora, a educação não pode desempenhar nenhum papel na política porque na política se lida sempre com pessoas já educadas."

"A Crise na Educação" (Hannah Arendt)


Esta teoria não se refere, evidentemente, ao papel da transmissão do saber na educação. Aí não se trata de doutrinar os novos, mas de lhes passar uma herança, o que não é, de qualquer modo, matéria de persuasão.

O que está em causa no ensaio de Arendt é a educação como acção política e a perversão que significa querer que aquilo que agora começamos possa constituir o único passado para as gerações futuras.

Podemos perguntar-nos se o que se tem visto nas últimas décadas, no nosso país, não é a tentativa de fazer prevalecer uma doutrina (a dos anos setenta), cujo único título (e essencial fraqueza) é, precisamente, ter cortado com o passado.

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