quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A "ÚLTIMA" ARMA

"Train to nowhere" (ustrainsnow.com)

 
A relação de forças na CP está em vias de mudar. Os homens que põem a andar os comboios estiveram sempre tão conscientes do seu poder de parar a empresa, (o que é relativamente fácil para um grupo tão pequeno e especializado), que os gestores da CP devem ter tido de contar como despesa corrente cada greve dos maquinistas e a mímica duma resistência pro-forma para se justificarem perante o governo, já que se trata duma empresa pública (ou, mais eufemisticamente falando, duma Entidade Pública Empresarial).

Um sintoma dessa mudança, para além da política austeritária que nos está a ser imposta, foi a interpretação que o respectivo sindicato se viu na obrigação de prestar ( mais para os seus associados do que para o público em geral ) perante o anunciado atraso no pagamento dos salários de Dezembro. Em resumo, em vez de se justificar mais uma greve, tentou-se afastar qualquer hipótese da empresa se encontrar em dificuldade, dando-se como adquirido  que os défices estarão sempre, por natureza, cobertos pelo orçamento do Estado.

Não há nenhuma organização, seja ela a mais necessária e de maior interesse público, como é o caso dos sindicatos, com o seu, devidamente regulado, direito à greve, que esteja livre de ultrapassar um limite que pode ser legal ou de simples bom-senso.

Pois uma coisa a que é difícil resistir é a de usar todo o poder que se tem para obter vantagens para si próprio ou para os seus. Não se espera, por isso, que a força das organizações se auto-contenha virtuosamente. Compete à lei fixar os limites e fazê-los cumprir.

É óbvio que o Estado falhou no caso da CP e que o poder dum dos sindicatos da empresa ultrapassou  os limites do razoável. Em Portugal, os trabalhadores têm tão poucas vezes oportunidade de abusar do seu poder, sendo quase sempre o contrário que acontece, que este exemplo não pode ser edificante para ninguém.

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