terça-feira, 6 de dezembro de 2011

REFOLHANDO A MARGARIDA





No pequeno vídeo junto, uma cena dum filme de 1958 de Marc Allégret con Brigitte Bardot ("En effeuillant la marguerite") é digna daquela outra, mais célebre, de Marilyn sobre o respiradouro do Metro, que ficou para a história do cinema como um exemplo duma resposta criativa à censura puritana.

As pernas nuas de Norma Jean aparecem sem que nem mesmo as feministas possam falar em exploração do corpo da mulher. Um acidente tão feliz como a passagem do comboio é neutro sexualmente (se esquecermos a problemática dos túneis de que Hitchcock fez um aproveitamento genial em "North by Northwest" de 1959).

No filme de Allégret há uma dupla censura: a do nu, que não chegamos a ver por a câmara ter preferido filmar o entusiasmo da plateia, e a do rosto que, a pretexto, de traduzir a timidez e a inexperiência da jovem "stripteaser", constitui, de facto, um segundo grau do "coberto".

Perante a beleza desse rosto só podemos pensar que aquela audiência foi "desviada" para o acessório e que o lapso em que o nu foi por ela entrevisto remetia para um infinito "encobrimento".

Se compararmos o cobrir/descobrir com a dialéctica da verdade, é como se a verdade recusasse mostrar-se no momento em que se revela. A máscara de Brigitte diz-nos que o "striptease" é apenas um jogo com a nossa imaginação.


0 comentários: