sexta-feira, 25 de novembro de 2011

OS AIS DA DEMOCRACIA


"A Greve" (Serguei Eisenstein)


Como se pode medir o sucesso duma greve? A tarefa será tanto mais fácil se o número de adesões for erigido em único critério. Mas, assim, ela teria o fim em si mesma, o que não deixaria de ser estranho, face ao enorme esforço despendido e aos custos para a economia. Além disso, as expectativas criadas pela greve passariam para segundo plano, relevando-se apenas o êxito dos organizadores.

Numa situação como a que vivemos hoje, a greve tem todas as condições para vencer e convencer no plano táctico, ao mesmo tempo que, estrategicamente, parece não ter nenhuma e a própria escolha do "adversário" ser tudo menos clara. Com efeito, contra quem é esta greve? Contra a Troika, contra o governo que é o seu "pau mandado", contra a UE, ou contra o "sistema"?

É evidente, pelos resultados eleitorais das últimas décadas, que o sistema não está em causa para os que votam nos partidos do chamado "arco governamental". E, para os outros, a alternativa ainda não saiu da coxa de Júpiter. A adesão tem pois um motivo "economicista"; é a resposta possível (proporcionada pelo sistema) à política de austeridade e aos sacrifícios impostos pelos credores.

A democracia, é claro, permite tanto as greves eficazes (no sentido de que desbloqueiam uma situação, ou impõem uma alternativa credível) como aquelas que, apesar de não terem qualquer eficácia em termos práticos e poderem até agravar os problemas, dum certo ponto de vista, caem no âmbito do direito de expressão.

Uma greve que não pode designar um objectivo concreto (que é o caso de todas as que são, no fundo, contra o "sistema") e não apresenta nenhum critério de sucesso realista, para além do número de grevistas, corresponde ao exercício do direito de protesto. Batem-me, mas eu tenho o direito de dizer ai!

Esta maneira de ver peca, talvez, por ser demasiado estreita. Porque é ao nível do sistema político e social que é preciso decidir  do carácter duma greve geral.

Já outros notaram, de paragens inesperadas - ou talvez não -,  o papel positivo da organização do descontentamento. Devemos pensar na economia de violência e irracionalidade, onde o civismo é tão fraco como entre nós, que representa uma greve geral como esta. Se ainda por cima a adesão é tão grande, só podemos regozijar-nos com o êxito da organização.

Por outro lado, não sabemos, quando fazemos um movimento, por pequeno que seja, se estamos a desencadear algum "efeito borboleta". Pode ser para pior, mas seríamos muito pobres em coragem se só nos mexêssemos com todos os trunfos na mão.

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