sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O CAPITALISMO DE ROSTO HUMANO


Niklas Luhmann
 
"A autonomia que caracteriza a sociedade moderna não é, de facto, de modo nenhum, uma autonomia dos seres humanos, mas a autonomia dos próprios sistemas. A autonomia do sistema político não surge da capacidade de um sujeito ou vários sujeitos deduzirem leis universais, às quais  os sistemas sociais deveriam obediência e que, logo, libertariam o sistema político de obrigações externas. (...) Pelo contrário, Luhmann vê a autonomia simplesmente como um pré-requisito contingente de um sistema social que funcione. Os sistemas, sustenta, tornam-se autónomos tanto quanto aceitam (ou encontram meios paradoxais de obscurecerem) a sua própria contingência, tanto quanto reconhecem ( ou paradoxalmente obscurecem o facto) de que não podem guiar-se por motivos externamente deduzidos, e consequentemente, tanto quanto criam e comunicam a sua própria realidade como sentido plausivelmente contingente."

"Niklas Luhmann's Theory of Politics and Law" (Michael King e Chris Thornhill)


Os sistemas regem-se pelas suas próprias leis estruturais e  o papel da "ideologia" é tornar esse funcionamento compatível com a ideia que temos de nós e do mundo. No caso de ser demasiado "desumano", cabe-lhe lançar "a nuvem de poeira" que o torne minimamente aceitável.

Quando vemos as proporções catastróficas que atingiu a crise do sistema, a primeira coisa que salta aos olhos é que não vai ninguém "ao leme". E que as várias "narrativas" para explicar o fenómeno são outras tantas tentativas de racionalizar e de tornar "digeríveis" os acontecimentos, tanto da parte dos "fautores" da desordem como das suas vítimas ( ou melhor dizendo, dos representantes destas).

É óbvio que o sistema deixou de funcionar e que procura uma qualquer forma de estabilidade para se reformular, seja o que for que pensem disso os seus ideólogos ou contra-ideológos.

Neste momento, a extrema contingência do sistema tornou-se insuportável. E apenas se pode esperar que, à força de novos e "paradoxais meios", essa contingência regresse a uma aparência menos feroz. É a hora do capitalismo de "rosto humano".


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