terça-feira, 28 de junho de 2011

A HIPOTECA DA AMBIGUIDADE

Gonçalo Tavares



“Nunca se fala o suficiente da forma como se hipoteca a ambiguidade quando se diz sim ou não, e quais as consequências dessa hipoteca.”

Gonçalo Tavares (“Uma viagem à Índia”)



A ironia desconcertante do autor de “Jerusalém”, quando nos colocamos no plano da ética, deixa de surpreender-nos no mundo dos anti-heróis, navegando no mar do “nosso sublime ou apenas trivial e universal, anonimato”, como diz Eduardo Lourenço, onde a única transcendência é a “in-transcendência” e “onde os ícones são mais visíveis do que os ‘homens’” Aqui, por que é que a ambiguidade não seria… um valor? De resto reversível no seu contrário, se carregássemos na tecla da epopeia.

A política é, hoje, o lugar onde esse “valor” mais parece hipotecado. Não se pode fugir ao sim e ao não, mas apenas para revelar a contradição como modo de pensamento.

Gonçalo Tavares pergunta, a certa altura, se o início do mundo se pode localizar em quem é empurrado. Quando, por força do ofício, se tem que insistir no registo  “épico”, a verdade tem a forma do empurrão.

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