terça-feira, 21 de junho de 2011

A HIPOCRISIA



“Já Gregório o Grande tinha reconhecido que o hipócrita serve os interesses do século porque, mesmo que não faça mais do que simular uma intenção recta, ele realiza efectivamente a acção que esta intenção implica.”

(Benoît Timmermans)



Apesar do papa pensar assim sobre a hipocrisia, não deixou de remeter para o Índex o tratado de Castiglione sobre a arte do parecer, pela qual se devia guiar o cortesão.

Mas a questão é bem mais profunda do que o simples fingimento porque, na verdade, só não seriam “hipócritas”, só não se esconderiam sob a máscara, os que resistissem com a fé dos crentes às dúvidas que os pudessem assaltar, sobretudo quando se encontram em posições que pressupõem determinadas “certezas”. Ou no caso extremo de Jean Meslier (1664/1729), que foi padre durante quarenta anos nas Ardenas e que deixou, na sua morte, um testamento contra todas as religiões e que Voltaire publicitou.

Gregório o Grande não podia, como papa, advogar a hipocrisia, o que quer que pensasse da sua utilidade, mas casos como o de Jean Meslier dão-lhe razão.

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