sábado, 6 de fevereiro de 2010

INFERNALIA


Armand Jean du Plessis, Cardeal de Richelieu


"Depois do assassinato de Henri IV, uma criança de doze anos foi morta por ter dito publicamente que faria o mesmo ao pequeno Louis XIII. Richelieu começou a sua carreira por um discurso em que pedia ao clero para proclamar a condenação de todos os regicidas; dava como motivo que os que alimentavam este desígnio eram animados por um entusiasmo demasiado fanático para serem contidos por qualquer pena temporal."

"L'Enracinement" (Simone Weil)


O cardeal brandia as penas eternas para o que atentasse contra a vida do "representante de Deus na terra", pelas mesmas razões por que Platão não prescindia do Hades. Era preciso que o castigo perseguisse o criminoso para além da morte.

Para o filósofo, é quase certo que o Inferno fosse apenas um papão para consumo político, ao nível da linguagem parabólica que ele julgava necessária para moderar os homens que não nasceram para filósofos. Talvez Richelieu, como político, não pensasse de outro modo.

À medida que se foi separando do poder temporal, a Igreja ficou mais livre para abandonar os papões. Mas no século de Armand-Jean du Plessis, o medo do Inferno não chegava.

Como diz um manual da Inquisição de 1578, "a punição não se destina em primeiro lugar e per se à correcção ou ao bem da pessoa punida, mas ao bem público, de modo a que outros fiquem aterrorizados e afastados dos males que poderiam cometer."

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