quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

FECHAR O JOGO



"Procura-se o sentido da história. Ora aquele que crê que a história tende para um fim está muito perto de não se contentar em pensar esse fim e de erigir planos para o realizar. Mas, ao fazer isso, ele mostra-nos qual é a sua impotência. Os planos temerários que os detentores da força pretendem basear sobre um conhecimento total da história afundam-se em catástrofes. Os planos que traçam no seu círculo estreito indivíduos isolados fracassam também; ou então alcançam, pela intervenção de outros factores, uma situação completamente diferente, tendo um outro sentido que não figurava em nenhum plano. O curso da história surge-nos como uma máquina de moer à qual ninguém escapa, ou então com um sentido com infinitas interpretações, que se manifesta contra toda a expectativa, através de acontecimentos novos, que permanece sempre equívoco, um sentido que nunca conhecemos mesmo quando nele confiamos."

"Introduction à la Philosophie" (Karl Jaspers)


Eis Hegel revisto depois das catástrofes do século XX. A história não é a história do Espírito revelando-se a si próprio. A própria ideia do progresso sofreu um revés definitivo. É inútil, pois, pressupor que ela tem um fim.

"Mas a filosofia da história exige que se procure o sentido, a unidade, a estrutura da história universal. Esta não pode visar senão a humanidade inteira." (ibidem)

Deixemos de lado a questão de saber se hoje é possível uma filosofia da história como seria a dum hegelianismo revisto. Não tem o sentido a mesma força de precipitação que a "tendência para um fim"?

O perigo duma tal visão das coisas reside na ideia dum falso poder operacional, uma vez "correctamente" interpretado o sentido da história.

A história seria, assim, um sistema para parar o jogo e fechar todas as saídas.

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