terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O CORTE NA BRUMA



"O mesmo movimento que substitui ao pensamento do ser a onto-teo-logia chega, numa série de esquecimentos sucessivos, à ciência, a qual dedica a sua atenção apenas aos entes, que os subordina a si, que quer conquistá-los e deles dispor, que procura o poder sobre os entes. Este movimento chega assim à vontade de poder (que é uma certa compreensão do ser, a maneira como, na nossa época, o ser é ou faz o seu ofício de ser); chega à técnica. O fim da metafísica, a crise do mundo técnico, que chega à morte de Deus, é na realidade o prolongamento da onto-teo-logia."

"Dieu, la Mort et le Temps" (Émmanuel Lévinas)


Lévinas resume aqui um dos momentos do pensamento heideggeriano. O ser é o que permite o ente (o que existe). Quando deixamos de explicar as coisas umas pelas outras, alcançamos, segundo Heidegger, um novo patamar da compreensão. É a renúncia ao ser que Heidegger critica na ciência que se tornou um modo do domínio da natureza.

A diferença entre o ser e o ente foi esquecida e "este esquecimento constitui o pensamento ocidental" (ibidem). Apenas a linguagem guarda os vestígios do ser: "A linguagem é a casa do ser".

Para Heidegger, o ser não se pode confundir com o fundamento do ente, à maneira de Deus criador do Mundo, e o pensamento do ser não é uma ontologia, nem uma lógica.

Eis por que a revolução heideggeriana é, no fundo, contra a razão e permeável a uma poética da força.

A enorme influência deste filósofo, que teve em Nietzsche o seu profeta, tem tudo o a ver com o crepúsculo duma civilização, como o demonstram os acontecimentos que mais marcaram o século XX.

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