quarta-feira, 30 de julho de 2008

PRIMEIRO, AS IDEIAS



"Afirma-se frequentemente que a história das descobertas científicas está dependente da invenção puramente técnica de novos instrumentos. Bem pelo contrário, creio que a história da ciência é fundamentalmente uma história das ideias. As lentes de aumentar já eram de há muito conhecidas antes de Galileu ter tido a ideia de as aplicar a um telescópio astronómico. A radiotelegrafia, como é sabido, é uma aplicação da teoria de Maxwell, que remonta a Heinrich Hertz."

"Em Busca de um Mundo Melhor" (Karl Popper)


O monólito que os astronautas do filme de Stanley Kubrick encontram na superfície da Lua, deliberadamente enterrado alguns milhões de anos antes podia ser uma mensagem ou um instrumento desconhecido (ou as duas coisas).

Nos seus fatos espaciais, eles limitam-se a tocar o objecto estranho como o homem primitivo o faria, ou um dos macacos do intróito da "Odisseia".

Não são só as técnicas que parecem às vezes estar disponíveis antes de as podermos aplicar e desenvolver. Passa-se o mesmo com as ideias.

Aristarco de Samos precedeu Copérnico de quase dois milénios, mas a sua ideia heliocêntrica fazia parte de um sistema exclusivo que não se adaptava à mentalidade desses tempos. Se pudéssemos reconstruir, em pensamento, o mundo antigo veríamos, talvez, por que se tinha que dar razão à teoria de Ptolomeu contra as teorias concorrentes.

Só descobrimos porque procuramos, e mesmo se às vezes o que acabamos por descobrir não era o que procurávamos, nunca aí chegaríamos sem uma hipótese e a ideia de um problema.

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