sábado, 5 de julho de 2008

ALHOS E BUGALHOS


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"O dito espirituoso era o que se chamava um "à-peu-près", mas que tinha mudado de forma porque há uma evolução para os trocadilhos como para os géneros literários, as epidemias, que desaparecem substituídos por outros, etc. Outrora a forma do "à-peu-près" era o "cúmulo". Mas estava fora de moda e só alguém como Cottard podia dizer às vezes no meio de uma partida de "piquet": Sabeis qual é o cúmulo da distracção? É tomar o édito de Nantes por uma Inglesa."

"Sodome et Gomorrhe" (Marcel Proust)


Édito e Edite não se pronunciam da mesma maneira em português, por isso esse trocadilho não existe entre nós, que somos tão dados a esse género de espírito.

É um recurso inesgotável a que se presta a nossa língua e de que tanto o teatro de revista como as comédias de António Silva fizeram largo uso.

O salão da patroa Verdurin, dado às artes de vanguarda e ao bom tom, não desdenha, como vemos, o trocadilho plebeu, e mais de um dos fidelizados ou de um iniciado retribuía assim a honra de fazer parte ou a amabilidade do convite.

Isso em nada diminuía os créditos de elegância do salão.

Marcel, que tinha uma opinião muito severa sobre tudo que o desviasse da obra, incluída a amizade, estava nesta altura em pleno trabalho de recolha de material.

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