segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

SIMONE E OS CÍNICOS


Diogenes, Jean-Léon Gérôme

"Segundo consta, Platão disse de Diógenes, o Cínico: "Ele é a versão enlouquecida de Sócrates." Nesta observação há tanto de homenagem inquietante como de escárnio. Como podemos evitar que esta descrição nos venha à lembrança quando pensamos em Simone Weil?"

"Paixão intacta" (George Steiner)


Diógenes queria menos reformar o mundo com o seu exemplo do que poder troçar dele e confrontá-lo com as suas próprias contradições.

Há aqui, como é proverbial, um orgulho feroz e uma vaidade paradoxal ("a vaidade transparece através dos buracos do teu manto.").

Se Platão fala em loucura neste caso é porque o que está implícito na "pedagogia" de Diógenes nunca poderia obter o acordo dos outros, por ser intrinsecamente anti-social.

A loucura (ou a santidade) de Simone Weil, aquilo que Steiner descreve como a patologia presente na sua vida e nas suas ideias, como a inveja da crucificação e o desejo de obedecer como a matéria, parece também destruir todas as pontes para o outro e enfermar de um luciferino orgulho.

Mas com isto não se tocou ainda no que constitui a grandeza de Simone Weil, nem se explicou como é que a sua "loucura", que tanto a religião, como a sociedade só poderiam condenar, assumiu tantas vezes a forma da preocupação social (desde que não se tratasse do seu próprio povo, o povo judeu, acrescentaria Steiner).

Essa grandeza só será patente quando nos pudermos abstrair da hagiografia: "Naquela aragem fria, não há lugar para o incenso."

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