Andrzej Wajda
Wajda realizou em 1988 um filme inspirado no romance de Doistoiewski "Os Demónios".
Os niilistas russos da última metade do século XIX são aqui retratados em toda a sua paixão iconoclasta e suicida, provocando, sabotando, assassinando, fiéis à divisa do "quanto pior, melhor".
Este grupo viajou pela Europa e trouxe a peste na bagagem, como Freud dizia ao levar a psicanálise ao novo continente.
O fosso entre o atraso das condições sociais do seu país e o que essa elite impaciente pôde testemunhar no estrangeiro era um verdadeiro abismo, em que algumas cabeças esquentadas se precipitaram, como a vara de porcos do evangelho, para a qual Jesus transportara o mal dum endemoninhado.
É esse o pensamento redentor do velho Verkhovenski que parece expressar a visão do romancista: o mal estrangeiro tem de ser concentrado nesses possessos do niilismo e nos defensores do progresso em geral, para que a Santa Rússia, enfim, purgada, seja salva.
Este mundo de loucos febris, amorais como algumas personagens de Gide, confia, no fundo num mecanismo histórico. Eles apressam a chegada do futuro, antes de outros darem a essa quimera uma outra eficácia.
Passaram do delíquio dos serões provincianos de Tchekov, sem esperança, mas resignados, directamente para a bomba.
1 comentários:
Por estas e por outras, Anacreonte é mais pescadinha de rabo na boca e o Sr. T. recusa o direito de uma linha...
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