quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

ALGURES, COPÉRNICO


Retrato de Copérnico por Jan Matejko


"Camille - Digo-vos eu, se não recebem tudo sob a forma de cópias inábeis etiquetadas em teatros, concertos e exposições de pintura, eles não têm olhos nem ouvidos. Se alguém talha uma marioneta pendurada na ponta de um fio que a faz gesticular e cujas articulações rangem a cada passo em pentâmetros iâmbicos, que personagem, que lógica!"

"La mort de Danton" (Georg Büchner)


O tom do discurso denuncia a paixão do orador. Se nos move, é porque ele parece abarcar o assunto no laço da sua voz e das suas palavras, como se o tivesse sob o olhar flamejante e o pudesse varar de um lado ao outro com os raios da sua inteligência.

Um nome é melhor do que um conceito e uma "dramatis persona" melhor do que um simples nome.

A certa altura, falando do sistema político (já em si uma audaciosa simplificação), põe-no em cena como uma personagem, frente a outras do drama. Empresta-lhe as intenções e as palavras, e como tem a peça na cabeça sabe o que se vai passar. Temos a sensação, ao ouvi-lo, de que não estamos mais no tempo real, mas no da tragédia.

A sua ficção faz todo o sentido, como outra faria. O nosso orador não é diferente dos outros. É com uma ficção que interpretamos a história e a política. Sem excepção. O mito é o princípio da ciência.

Mas depois das lições do século XX, persistir na mesma ficção é como se insistíssemos na versão ptolomaica quando já um certo monge polaco escrevia "De Revolutionibus Orbium Coelestium".

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