"Porque um pensamento sem fim prático é sem dúvida uma ocupação clandestina não muito conveniente. Esta espécie de pensamentos, sobretudo, que caminhando sobre andas, tem apenas um minúsculo ponto de contacto com a experiência, é suspeita de nascimento irregular. Sem dúvida falava-se assim outrora dos "voos do pensamento"; no tempo de Schiller, um homem cujo peito albergasse tão sublimes problemas teria sido muito considerado. Hoje, em contrapartida, ter-se-ia a impressão que este homem era um pouco anormal, a menos que fosse o caso do pensamento ser a sua profissão e a sua fonte de rendimento."
"L'Homme sans Qualités" (Robert Musil)
Por mais que os avanços da ciência dependam dos "pensamentos sobre andas", desligados, quase sempre, de qualquer utilidade prática, nunca abalaremos a desconfiança do homem mediano, "traumatizado" embora pelo sucesso tecnológico, filho natural da teoria e da abstracção.
E a razão é que o espírito prático funciona perfeitamente a um determinado nível dos problemas com que nos deparamos na vida quotidiana.
Mas essa inteligência ficará sempre aquém de qualquer descoberta.
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