domingo, 23 de abril de 2017

A LEITURA NÃO É DE COMPANHIA

structure of protein




"Mas no ocidente democrático-tecnológico, tanto quanto se pode dizer, os dados estão lançados. O in-fólio, a biblioteca particular, a familiaridade com os idiomas clássicos, as artes da memória pertencerão, cada vez mais, ao reduzido número dos especializados. O preço do silêncio e da solidão aumentará. (Parte da ubiquidade e do prestígio da música provém precisamente do facto de se poder escutá-la enquanto se está na companhia dos outros. A leitura séria exclui até os que nos são mais íntimos).
"Paixão intacta" (George Steiner)

É óbvio que o ideal do Homem da Renascença teve o seu tempo. Não é mais possível ao indivíduo dispensar a memória objectiva (a das enciclopédias e dos bancos de dados), nem conhecer o essencial das artes e das ciências.

Mas entre o especialista, confinado ao núcleo da sua proteína, e esse ideal, há espaço para um espírito "humano" que saiba relativizar a memória que cresce fora de si e o tipo de conhecimento que lhe está associado.

Como sempre, o problemas dos "muitos" é de outra natureza. E talvez esteja na sequência devida que a música, em tantos casos, tenha substituído a religião e o fanatismo. Podemos desfrutá-la, de facto, todos juntos.

Mas a leitura será cada vez mais para os que, como diz Pessoa, não são de companhia.

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