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Diz Chartier que o homem vulgar é filósofo, mas muito pouco físico, o que é o contrário da opinião do século. E sem dúvida que é assim, porque podemos enganar-nos sobre a força das ideias e o peso das paixões, mas sabemos que somos seres de entendimento e prezamos acima de tudo o acordo com o semelhante, o que é geralmente pensar mal: mal ou bem, isso é pensar ontologicamente e não segundo a experiência.
É que não se entra no mundo de mãos nuas. Passo na rua a cada passo pelo sofista da política, e esta paixão de provar pelo raciocínio faz-me calçar a sandália grega e todo o pé ocioso. Que admira pois que a filosofia desonrada, ao mesmo tempo que nos livrou das escolas, faça de nós criaturas supersticiosas? Nada é mais comum que o culto de Eros. Porque o instinto e a natureza são divinizados e separados das ideias.
A beleza do 'obscuro objecto' é de imaginação. Ao contrário do que pensa o apaixonado, o desejo não persegue nada de real. E todos nós somos falsos sociólogos ao julgar o amor. E é quando no corpo do outro melhor sentimos o mundo que mais traímos a física. É preciso abrir portas e janelas e arejar. Cada belo objecto nos faz tristes como o garoto sem dinheiro diante da montra dos pastéis. A juventude é um fetiche que nos arma ciladas consentidas e mesmo procuradas. Assim o jovem se submete ao moderno culto do 'smart' e da publicidade total, e se perde para si próprio. Quando precisa dum ideal adulto, a sociedade devolve-lhe a infância dos homens. Fazemos estátua do homem que cresce e ele torna-se anão em espírito.
A beleza é um reflexo do sol na água, e não a podemos conhecer. As formas 'eternas' que alegrem e passem.
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