"O desprezo pela política, a convicção de que a actividade política é um mal necessário, devido em parte às necessidades da vida que forçam os homens a viver como trabalhadores ou a governar sobre os escravos que os alimentam, e em parte aos males decorrentes do próprio viver-juntos, quer dizer, ao facto de os muitos, a que os gregos chamavam hoi polloi, ameaçarem a segurança e a própria existência da pessoa individual, corre como um fio vermelho ao longo dos séculos que separam Platão da época moderna."
"A Promessa da Política" (Annah Arendt)
Mas a política, como domínio da palavra e da acção, entre iguais, libertos da necessidade económica, graças a um estatuto social privilegiado, tendia a ser cada vez menos prática e ligada à realidade, a confundir-se com a liberdade de "se preocupar com o eterno (o aei on)."
Por isso, a conclusão pessimista de Platão deu-lhe a torção necessária a que a política se tornasse, de facto, uma libertação de quaisquer obrigações políticas e de toda a actividade pública. No que foi a fonte inspiradora da atitude cristã (Tertuliano: "Nada nos é mais estranho do que a coisa pública").
Essa retirada da política vingou, como diz Arendt, na instituição da universidade, com o seu espaço protegido da política.
Não obstante, a ideia de que a política é independente da necessidade e de quaisquer fins sobrevive ainda por detrás da sociedade sem classes e do Estado evanescente.
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